O nível intelectual
de Sobral é rodoviário. Isto é algo evidente para quem quer que
ponha um pé nesta vila desgarrada e tenha um mínimo de cultura, o
que é um grupo de cardinalidade muito pequena, pois existem poucas
razões para alguém culto pisar nesta terra onde Judas perdeu as
botas. Nos tempos mais ilustrados, havia inclusive o famigerado
‘Testamento do Judas’, um conjunto de pasquins anônimos
veiculados uma vez por ano em que o discípulo traidor nomearia como
seus herdeiros os pecadores da cidade. Este exercício de
maledicência foi a coisa mais excelsa que esta cidade foi capaz de
produzir nos seus últimos cinquenta anos de existência.
Sabendo destas
colocações preliminares, não poderíamos nos assustar com nada que
viesse deste deserto intelectual. Até que um jovem fez uma consulta
na Wikipédia, a Mãe dos Burros. No artigo sobre esta terra eram
descritos os ‘eventos culturais’ deste feudo. São mencionados,
entre outros, as festas dos santos locais e os feriados cívicos.
Qual foi a surpresa geral ao se ver as ‘Vinholadas’ como estando
presentes neste rol!!!
Mesmo o leitor mais
arguto há de ignorar o significado desta expressão, e talvez pense
que se trate de algum festival da cultura ibérica. A realidade irá
desapontá-lo. São farrass recentes celebradas na Margem Esquerda do
Rio Acaraú onde jovens universitários consomem drogas e se
embebedam com vinhos baratos, como o infame São Braz, que só pode
ser chamado como tal de modo equívoco. O fim último destas
celebrações é reunir grupos para saírem para orgias de todos os
gostos imagináveis, que se tornaram frequentes desde o projeto de
tornar este vilarejo uma ‘Cidade Universitária’. Conta-se que
uma pioneira do ensino superior lamentava que os alunos usassem a sua
alma mater como justificativa
para saírem das suas cidades e cometer todas as travessuras
possíveis.
Dados os precedentes
já ilustrados neste nosso espaço, pensamos se talvez fosse
relevante noticiar este delírio de referência recente, contudo
respondemos pela afirmativa. É um sinal interessante para afastar os
forasteiros desta cidade de neon, que brilha e queimará seriamente
quem se aproximar. Julgamos que fazemos com isto um serviço de
utilidade pública, o que aliás é, com exceção da obra recente de
Wellington Macedo, a coisa mais próxima de um jornalismo relevante
do lado de cá do Serrote do Barriga. É necessário que haja
profetas do caos para nos chamar da mediocridade, e este é o nosso
papel.
Isto sendo dito,
continuamos céticos a respeito da relevância ‘cultural’ das
Vinholadas. É mais razoável supor que se trata apenas de um vício
civilizacional que chegou agora a um lugar que com a morte de Dom
José foi forçado à transição da Idade Média para a Modernidade,
e se viu despreparado para todos os muitos vícios desta era e falhou
em celebrar qualquer uma das suas poucas virtudes. Resta-nos apenas
lamentar que a educação deste lugar pulou o estágio na Sorbonne e
foi diretamente a Sodoma.