domingo, 25 de novembro de 2018

Sodoma Equatorial



O nível intelectual de Sobral é rodoviário. Isto é algo evidente para quem quer que ponha um pé nesta vila desgarrada e tenha um mínimo de cultura, o que é um grupo de cardinalidade muito pequena, pois existem poucas razões para alguém culto pisar nesta terra onde Judas perdeu as botas. Nos tempos mais ilustrados, havia inclusive o famigerado ‘Testamento do Judas’, um conjunto de pasquins anônimos veiculados uma vez por ano em que o discípulo traidor nomearia como seus herdeiros os pecadores da cidade. Este exercício de maledicência foi a coisa mais excelsa que esta cidade foi capaz de produzir nos seus últimos cinquenta anos de existência.

Sabendo destas colocações preliminares, não poderíamos nos assustar com nada que viesse deste deserto intelectual. Até que um jovem fez uma consulta na Wikipédia, a Mãe dos Burros. No artigo sobre esta terra eram descritos os ‘eventos culturais’ deste feudo. São mencionados, entre outros, as festas dos santos locais e os feriados cívicos. Qual foi a surpresa geral ao se ver as ‘Vinholadas’ como estando presentes neste rol!!!

Mesmo o leitor mais arguto há de ignorar o significado desta expressão, e talvez pense que se trate de algum festival da cultura ibérica. A realidade irá desapontá-lo. São farrass recentes celebradas na Margem Esquerda do Rio Acaraú onde jovens universitários consomem drogas e se embebedam com vinhos baratos, como o infame São Braz, que só pode ser chamado como tal de modo equívoco. O fim último destas celebrações é reunir grupos para saírem para orgias de todos os gostos imagináveis, que se tornaram frequentes desde o projeto de tornar este vilarejo uma ‘Cidade Universitária’. Conta-se que uma pioneira do ensino superior lamentava que os alunos usassem a sua alma mater como justificativa para saírem das suas cidades e cometer todas as travessuras possíveis.

Dados os precedentes já ilustrados neste nosso espaço, pensamos se talvez fosse relevante noticiar este delírio de referência recente, contudo respondemos pela afirmativa. É um sinal interessante para afastar os forasteiros desta cidade de neon, que brilha e queimará seriamente quem se aproximar. Julgamos que fazemos com isto um serviço de utilidade pública, o que aliás é, com exceção da obra recente de Wellington Macedo, a coisa mais próxima de um jornalismo relevante do lado de cá do Serrote do Barriga. É necessário que haja profetas do caos para nos chamar da mediocridade, e este é o nosso papel.

Isto sendo dito, continuamos céticos a respeito da relevância ‘cultural’ das Vinholadas. É mais razoável supor que se trata apenas de um vício civilizacional que chegou agora a um lugar que com a morte de Dom José foi forçado à transição da Idade Média para a Modernidade, e se viu despreparado para todos os muitos vícios desta era e falhou em celebrar qualquer uma das suas poucas virtudes. Resta-nos apenas lamentar que a educação deste lugar pulou o estágio na Sorbonne e foi diretamente a Sodoma.

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